Esqueça as receitas prontas, quem sofre com algum transtorno mental precisa de tratamento. Julgamentos e conselhos não são remédios indicados para manter a saúde mental sob controle. “Presença e palavra são importantes, mas escuta e acolhimento deve vir em primeiro lugar”, diz a psicóloga comportamental Denise Pará Diniz, coordenadora do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Quando o assunto é transtorno mental, ainda existem ideias e atitudes que precisam ser esclarecidas e modificadas. Pensamentos que ao longo do tempo foram se transformando em mitos e preconceitos levam ao medo e à discriminação, dificultando o acesso do paciente ao médico especializado e ao tratamento adequado.
“Pessoas com transtornos mentais, além de lutar pelo seu tratamento e melhora dos sintomas, muitas vezes têm que enfrentar o estigma do diagnóstico na sociedade”, diz Barbara Bandeira, médica psiquiatra e professora de psiquiatria da UnB (Universidade de Brasília).
Por isso, é essencial derrubar o conceito de que esses distúrbios são sinônimos de fraqueza, as pessoas não escolhem estar naquela situação. Para elucidar o que seriam esses comentários e opiniões que mais atrapalham do que ajudam, com a ajuda dos especialistas, apontamos uma lista de frases e ações que é melhor evitar.
Vale o policiamento para não prejudicar ainda mais aquele ente querido que, adoecido, dispensa comentários constrangedores.
Evite os pensamentos preconceituosos:
1. Isso é frescura;
2. Isso é falta de religião;
3. É coisa de gente atormentada;
4. É coisa de gente mimada;
5. É chilique, faniquito ou fricote;
6. Pessoas com transtornos mentais são fracas;
7. Pessoas que ficam ‘tentando o suicídio’ querem só chamar a atenção;
8. Pessoas com transtornos mentais são esquisitas, perigosas, instáveis e violentas;
9. Psiquiatras e psicólogos servem para tratar gente louca.
Descarte frases que só pioram a situação:
1. Se você se esforçar, você melhora!
2. Mas você é tão bonito, não deveria estar assim;
3. Você tem tudo, por que adoeceu?
4. Isso é coisa da sua cabeça, você está bem;
5. Isso é uma fase, você vai superar;
6. Tenha fé;
7. Vai dar tudo certo;
8. Já passei por isso, não é nada grave.
Aposte em uma escuta acolhedora “Devemos ter muito respeito com quem compartilha algo tão pessoal como a vivência com um transtorno mental”, diz a psicóloga Graça Maria Ramos de Oliveira, supervisora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do IPq – HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Segundo ela, é fundamental não rotular, usar uma linguagem respeitosa e acolhedora, com empatia e compreensão. É perguntar realmente como a pessoa está se sentindo e como se pode ajudá-la.
Veja a seguir alguns exemplos:
1. Por que você não me diz como está se sentindo?
2. Gostaria de conversar, estou aqui para ouvir você.
3. Sobre o que você anda pensando?
4. Vamos buscar informação sobre o que você está sentindo.
5. Quer que eu o acompanhe ao médico?
6. Você não está sozinho, conte comigo!
7. O que ajudaria você nesse momento?
Para Diniz, é importante deixar o outro se expressar, sem pressa e sem minimizar a situação. “Inicialmente, é possível ajudá-lo a conquistar pequenas metas, como uma caminhada ou um café, sem imposição. E ir incentivando a busca por uma ajuda médica”.
A psicóloga diz que, se indicar um psiquiatra parece um pouco ‘assustador’ naquele momento, sugira outro especialista para resolver sintomas específicos, como a insônia. “O que você acha de consultar um neurologista para conseguir dormir melhor?” é um exemplo de abordagem.
De acordo com Marcia Marchiori, psicóloga, especialista em medicina comportamental e mestre em ciências da saúde pela Unifesp, as palavras podem ser terapêuticas, auxiliar, acolher, apoiar, consolar, reerguer, proporcionar reflexões valiosas e curativas. “E ninguém melhor do que as pessoas próximas para detectar mudanças emocionais e comportamentais importantes que alguém venha a apresentar e que chamam a atenção”.